“Maracatu é religião, é vida, comunidade, força, conjunto. Tudo que não consegue ver, só sentir.” Chacon Viana – mestre da Nação Porto Rico
Aquarela de Carlos Julião
O Maracatu de Baque Virado, ou Maracatu Nação, é uma manifestação popular da cultura brasileira, urbana, de forte cunho religioso e de origem escrava, sob a qual os escravos trazidos da África, na tentativa de manter suas origens religiosas, realizavam seus cultos e cerimônias. Tornou-se uma cultura popular de resistência afro-descendente, surgida no final do século XIX, sendo ainda hoje uma manifestação que reconhece na Música o principal veículo de comunicação da história oral brasileira.
Perpetuado predominantemente no estado de Pernambuco, principalmente na cidade de Recife, o M aracatu de Baque Virado está inserido no ciclo carnavalesco. Simboliza, entre outras coisas, a coroação dos Reis do Congo, feita em forma de cortejo.
O cortejo é composto pelos personagens da Corte Real, os quais dançam seguidos por uma orquestra de percussão, composta pelos “batuqueiros” e seus instrumentos: alfaias, agbês, mineros, atabaques, taróis, caixas e gonguê, além de uma voz solo, comandada pelo Mestre, e o coro de vozes.
O Mestre (ou puxador) comanda o baque com seu apito e canta a loa, que é respondida pelos batuqueiros, baianas e todos os integrantes. Todos desfilam juntos, em blocos, em forma de “arrastão”. As loas são pré-elaboradas e falam da história do maracatu, da sua origem, da tradição, versam sobre o candomblé, o abolicionismo, a procedência escrava.
————————————————————————————–
————————————————————————————–
Site importante sobre Maracatu de Baque Virado
- Portal do Maracatu de baque virado – maracatu.org.br
Nesse site também encontramos os trabalhos acadêmicos sobre maracatu e um breve histórico:
http://maracatu.org.br/o-maracatu/breve-historia/
- Site da pesquisadora Claudia Lima – artigos da pesquisadora sobre diversos aspectos da cultura afrobrasileira http://www.claudialima.com.br
- REGINALDO PRANDI – A DANÇA DOS CABOCLOS
http://www.espiritualidades.com.br/Artigos_M_R/Prandi_Reginaldo_danca_caboclos.htm
- OLIVEIRA, Climério, RESENDE, Tarcício Soares. Batuque Book – Maracatu Baque Virado e Baque Solto, Editora LUMIAR ISBN:859053471-5
Vídeos realizados em 2010 por Tito Silva, português, como parte do projecto INOV-Art/ DgArtes do Ministério da Cultura de Portugal em parceria com o Núcleo de Etnomusicologia do Departamento de Música da Universidade Federal de Pernambuco, Brasil.
http://maracatu.org.br/o-maracatu/memoria/ ou
http://www.youtube.com/user/TIMARACATU#p/u
————————————————————————————–
————————————————————————————–
Glossário: Da seita e do maracatu de nação.
———————
Esse glossário é parte da dissertação de mestrado A EXPERIÊNCIA ETNOGRÁFICA DE KATARINA REAL (1927-2006): COLECIONANDO MARACATUS EM RECIFE de Clarisse Quintanilha Kubrusly
[Programa de Pós-graduação em Sociologia e Antropologia, (PPGSA), do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Orientador: Dr. José Reginaldo Gonçalves. Disponível em http://nuclao.webs.com/ClarisseQuintanilhaKubrusly.pdf]
—————————————-
(obs: Para a composição desse Glossário, além de minhas próprias explicações, foram consultadas principalmente as seguintes obras: BARROS, José Flávio Pessoa de, 1999. CASCUDO, Luís da Câmara, 1972. MAGGIE, Yvonne, 2001. PRANDI, Reginaldo, 2004; VOGEL, Arno; Marco Antônio da Silva Mello, José Flávio Pessoa de Barro; 2005.).
A
Africano– descendência africana, traços afro-descendêntes, quando dizem que uma boneca recém
feita é africana, querem evocar o ancestral que ela representa trazendo autenticidade e coerência
ao discurso nativo que se pensa como descendente de africano.
Amassis– “ Abluções rituais ou banhos purificatórios feitos com líquido resultante da maceração
de folhas frescas. Entram geralmente na sua composição as folhas votivas do òrisá do chefe do
terreiro do iniciando e as assim chamadas “folhas de nação” vd.” (V. M. B. 2005 : 129).
Assentamento– “Objetos ou elementos da natureza(pedra, árvore, etc) cuja substância e
configuração abrigam a força dinâmica de uma divindade. Consagrados, são depositados em
recintos apropriados de uma casa-de-santo. A centralidade do conjunto é dada por um òtá, pedrafetiche
do õrisá.” (V. M. B., 2005 : 192).
Axé– “ Do iorubá àse, força dinâmica das divindades, poder de realização, objetos em locais
sagrados, elementos da natureza (…) “ (Pessoa de Barros, 1999 :236). “Termo de múltiplas
acepções no universo dos cultos: designa principalmente o poder e a força vital. Além disso,
refere-se ao local sagrado da função do terreiro, tanto quanto a determinadas porções dos animais
sacrificais, bem como ao lugar de recolhimento dos neófitos (vd. runkó) É usado ainda para
designar na sua totalidade a casa-de-santo e sua linhagem” (V. M. B., 2005 : 192)
Axêxê – cerimônia de enterro de mortos.
B
Babalorixá– “Sacerdote chefe de uma casa-de-santo. Grau hierárquico mais elevado do corpo
sacerdotal, a quem cabe a distribuição de todas as funções especializadas do culto. É o mediador
por excelência entre o homem e o òrisá. O equivalente feminino é denominado yalorixá. Na
linguagem popular são consagrados os termos pai e mãe-de-santo.” ( V. M. B., 2005 : 193)
Banho– vd. Amassis.
121
Baque: batida sonora, musicalidade percussiva que designa o “toque” dos maracatus: “baque
virado”: é o tipo de toque de bombos (tambores também conhecidos como alfaias), que
acompanhados de gongé (uma grande campânula de ferro), taról (caixa) e mineiro (chocalho de
metal) realizam a sonoridade particular e “virada” dos maracatus nação. O “baque solto” é
executado pelo “terno” (pequena orquestra de percussão e metais: bombinho, tarol, mineiro e
agongê duplo; trompetes e trombones que fazem soar o baque solto entre as exibições de uma
tradição de poesia improvisada típica da Zona da Mata Norte de PE ).
Boneca– vd. Calunga.
C
Calunga– cemitério, morto, egum, ancestral. Conhecida simplesmente como boneca, nos
maracatus nação são as bonecas esculpidas em madeira escura e sobre as quais são atribuídos
poderes mágico-religiosos. Desfilam nas cortes dos maracatus carregadas pela “dama do paço”.
Segundo Câmara Cascudo: “Nos maracatus do Recife, as calungas são duas bonecas, (às vezes
uma única) Dom Henrique e Dona Clara que vão nas mãos dançantes das negras…”
(CASCUDO;1972 : 230). Cascudo nomeia apenas a calunga Dom Henrique da “nação Elefante” e
Dona Clara que pertencia ao “maracatu Cambinda Velha” e hoje se encontra na “nação Leão
Coroado”. Segundo Mário de Andrade:“ Figura de grande importância técnica nos bailados dos
maracatus, (…) é a Dama do Passo. (…) A Dama do passo tem como obrigação carregar uma
boneca de sexo feminino ricamente enfeitada(…)ídolo, feitiço e apenas objeto de excitação
mística, e ainda símbolo político religioso de reis-deuses: como a sua nomenclatura, o seu
conceito também não está e nem nunca esteve perfeitamente delimitado dentro da mentalidade
negra.” (ANDRADE; 1959 : 131-154); e para Guerra Peixe:“Entre as acepções publicadas sobre
a calunga, é conhecida a explicada por Mário de Andrade, revelando os significados de
“senhor”, “chefe”, ‘grande”. Engana-se, porém, quando afirma que a calunga dos maracatus
nunca é um boneco de qualquer sexuação e sim fixamente do sexo feminino (…) As calungas
podem ser de um e de outro sexo. A referência na voz popular, porém, é mais comum no feminino:
“a calunga Dom Luiz” expressão tantas vezes por nós ouvida.” (GUERRA PEIXE, 1981 : 38).
Para maiores informações sobre algumas calungas particulares, ver Guerra Peixe.
Caboclos – “Espíritos ancestrais cultuados nos candomblés de angola, de caboclos e na umbanda.
São representados, geralmente, como índios do Brasil ou de terreiros da áfrica mítica.” (V. M. B.,
2005 : 193)
122
Candomblés– “Designação genérica dos cultos afro-brasileiros. Costumam no entanto, distinguirse
pelas suas designações regionais: candomblés (leste- setentrional, especialmente Bahia), xangôs
(nordeste oriental especialmente Pernambuco), tambores (nordeste ocidental, especialmente São
Luiz do maranhão), candomblés de caboclo (faixa litorânea da Bahia ao maranhão), catimbós
(nordeste), batuques ou paras (região meridional, Rio Grande do sul, Santa Catarina e Paraná),
macumba (Rio de Janeiro e São Paulo).” (V. M. B., 2005 :194)
Catimbó– Centro espírita de Catimbó. vd. Candomblé.
Centro– vd. Candomblé. Vd. Terreiro
D
Dama do paço– Personagem que dança carregando a calunga do maracatu durante o cortejo. Vd.
Calunga.
Demanda– Diz-se vencer demanda. É uma batalha entre oorixás ou entre eguns e médiuns. Implica
em um duelo que hierarquiza. “Guerra de orixá, batalha ou briga de santo.” (M, 2001: p.143).
E
Estado– (Estado de catimbó ou centro espírita) vd. Candomblé.
Egum– Nome para os espírito dos mortos, desencarnados. No maracatu também é chamando de
egum o espírito do ancestral da nação presente em assentamentos do terreiro ou nas calungas.
Exu– (Èsú)- “Primogênito da criação. Também conhecido como Elégbára (jeje) é popularmente
referido como compadre ou homem-de-rua. Susceptível, irritadiço, violento, malicioso, vaidoso e
grosseiro. Dizem que provoca as calamidades públicas e privadas, os desentendimentos e as
brigas. Mensageiro dos òrisá e portador das oferendas. Guardião dos mercados, templos, casas e
cidades. Ensinou aos homens a arte divinatória. Costuma-se sincretizá-lo com o Diabo. Ocorre
tanto em representações masculinas e femininas Nas casas angola é bombogira; nas casas angolacongo
é (Exúlonã). Na umbanda tem múltiplas personagens entre elas, pombagira. Suas cores são
vermelho e o preto. Saudação – “laró-ye!”” (V. M. B., 2005 :195).
Encantados– “…caboclos mestres e outras entidades conhecidos nas religiões afro-brasileiras pelo
nome genérico de encantados, concebidos como espíritos de homens e mulheres que morreram ou
então passaram diretamente deste mundo para um outro mundo mítico, invisível, sem ter
conhecido a experiência de morrer: diz-se que se encantaram. No universo plural das religiões
afro-brasileiras, ou afro-indio-brasileiras, essas entidades constituem o panteão especialmente
123
brasileiro, justaposto ao panteão de origem africana formado pelos orixás iorubanos, vuduns jejes
e inquices bantos. Dos cultos aos encantados, certamente a umbanda é o mais conhecido..”
(PRANDI, 2004 :7)
Ekedi– (equede) – “Cargo honorífico circunscritos às mulheres que servem os òrisá, sem
entretanto, serem por eles possuídos. É o equivalente feminino de ogã.” (V. M. B., 2005 : p.195)
F
Feito– “O mesmo que adóssúu e iaô” ( V. M.B., 2005 :195)
Feitura– “Processo de iniciação que implica em reclusão, catulagem, raspagem, pintura, instrução
esotérica, imposição do vd. osúu e apresentação pública. vd. òrúko” (V. M.B., 2005 : p.195)
Filho-de santo – “Diz-se de todo aquele que é afilhado ao candomblé”. (vd Povo do santo). (V.
M. B., 2005 : 195).
I
Iansã– (Iyaànsan) em alguns centros também conhecida como Oiá -“Divindade das tempestades e
do Rio Neger, mulher de Ogum, e, depois, de Sòngó. Relacionada com os vendavais,os raios e os
trovões. Sincretizada com Santa Bárbara. Seu dia de semana é a quarta feira. Suas insígnias são a
espada e o espanta moscas de crinas de cavalo. Suas cores são vermelho escuro e marrom.
Considerada mãe dos egum, que é a única a dominar. – Saudação – “Eparrei”. (V.M.B, 2005:197).
Iansã Gigan– Iansã Protetora do Maracatu Estrela Brilhante do Alto José do Pinho. Orixá
representado por Dona Joventina a calunga “ancestral” da nação.
Iemanjá– “Orixá dos rios, especialmente do rio Ògun, na África. Filha de Oxalá e Olocum (Deusa
do mar). Casada com Oraniã e algumas vezes considerada como esposa de Oxalá. Usa o abebé
(leque) prateado. Seu dia é sábado. Seus colares são de contas brancas transparentes. Seu nome
significa em ioruba, mãe dos peixinhos. Saudação, Odoiá!” (BARROS, 1999 : 237)
Ilé– vd terreiro, vd. candomblé
Ifá– “Deus dos oráculos e da adivinhação. Senhor do destino. Há quem afirme ser sua
representação a cabeça envolvida por uma trama de fios de búzios. Sua cor é o branco. Seu dia é
a quinta feira. Conhecido também como Òrúmilá, ‘somente-o-céu-sabe-quem-será-salvo’ .
saudação – “Eèpààbàbà!”( V. M.B., 2005 : 196)
J
124
Jurema – Em Pernambuco o termo designa os cultos conhecidos como umbanda, catimbó, ou
candomblé de caboclo. vd Candomblé. Também é o nome de uma entidade espiritual: a Cabocla
Jurema e de uma folha com a qual se prepara uma bebida ritual utilizada em alguns cultos de
caboclo. “Mata. Local dedicado aos caboclos” (M, 2001 : 147).
L
Luto– Recolhimento, resguardo: período em que o maracatu deixa de sair nas ruas
Livro da seita– Neste trabalho se refere ao caderno de anotações de Luiz de França emprestado à
Katarina real. No caderno continha anotações com as diversas possibilidades dos odôs no jogo do
ifá. vd Babalaô (oluô) vd. odos (odus). Vd, òpelé. Vd. Ifá. vd:(Real, 2001: 60).
M
Mãe-de-santo– vd. Babalorixá.
Maracatu– Os “maracatus nação” ou maracatus de “baque virado” também referidos como
“nações africanas” são uma manifestação carnavalesca da cidade do Recife que tem como mito de
origem as Instituições dos Reis do Congo ou Instituições Mestras, associada às Irmandades que
prestavam assistência aos negros nos bairros portuários do Recife antigo (Irmandade de Nossa
Senhora do Rosário e de São Benedito dos bairros de Santo Antônio e São José). As narrativas
históricas sobre os terreiros e “afro-descendentes” em Recife se remetem ao Mercado São José, ao
Pátio do Terço e às casas dos sacerdotes da “seita” e da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário
dos Homens Pretos. Atualmente as nações de maracatu realizam suas “saídas” (desfiles nas ruas)
com uma grandiosa Corte Real (personagens: Rei, Rainha, Princesa, Dama do Paço, Calungas,
Baianas Ricas, Vassalos, Caboclos de Lança ou Reiamar, Escravos e Catirinas ou Baianas etc.) De
suas “sedes” e terreiros saem para as ruas acompanhados do soar de um intenso “baque virado”
executado por um conjunto musical percussivo.(instrumentos: alfaias ou bombos, gonguê, caixas,
mineiros e abes). Ostentam seus vínculos com alguma religião “afro” de Recife (o Xangô,
Catimbó e Jurema) e se dizem “nações” devido à alegada descendência “africana”. “maracatu de
baque solto”, Segundo Siba Veloso, mestre do maracatu Estrela Brilhante de Nazaré da Mata:
“Maracatu de baque solto é uma tradição popular da região da Zona da Mata Norte de Pernambuco
que representa uma nação guerreira em movimento. Entre vários personagens, o Caboclo de Lança
se destaca como sua principal marca visual, seu “chapéu” (longa cabeleira colorida), o “surrão”
(chocalhos de ferro nas costas), a “lança” pontuda e a “manta” colorida bordada em lantejoulas
125
que veste sobre o corpo. Realizam movimentos coreográficos embalados pelo ritmo do “terno” (a
pequena orquestra de percussão e metais). Nos meses que antecedem o carnaval acontecem os
“ensaios” e as “sambadas” nas quais ocorrem as disputas entre poetas de dois grupos rivais onde a
poesia rimada é o ponto central das atenções e uma de suas particularidades mais marcantes”
(Siba, 2007)
Maracatuzeiros- integrantes de nações de maracatus em geral. Os que tocam são batuqueiros e a
corte real que sai dançando em cortejo.
Mestre- O termo serve para designar um espírito mestre do estado de catimbó ou uma pessoa
viva, um “mestre do Povo”. No segundo caso, os “mestres” são “personalidades” individualizadas
que falam por um determinado coletivo, são pessoas detentoras de saberes específicos, são as
autoridades dos conhecimentos e dos segredos dessas “artes” e “folguedos” do que se denomina
“folclore” ou “cultura popular”. Também designa o título que se adquire quando se defende uma
dissertação de mestrado.
Mestre do estado– Espíritos mestres do Estado de Catimbó. Neste trabalho Mestre Carlos e Mestre
Cangarussu eram os mestres guias do estado de Cosme Damião Tavares no estrela brilhante de
campo grande até meados de 60.
N
Nação– (maracatu de nação ou de baque virado, ou nação africana); “nação” é categoria
denominativa que sublinha a descendência que os ligam à nações africanas, à terreiros que são
descendentes de nações e povos na áfrica. O nome Maracatu de nação também os distinguem dos
maracatus de trombone, de baque solto ou rurais que na maioria das vezes, não são ligados à
nações de candomblé e sim a terreiros de Catimbó e Jurema.
Nação – “Designa no Brasil, os grupos que cultuam divindades provenientes da mesma etnia
africana, ou do mesmo subgrupo étnico. São exemplos do primeiro caso as “nações” congo,
angola, jeje, ao passo que o segundo caso que o segundo caso é ilustrado por ketú, ijes, òió
correspondentes ao subgrupo da etnia nagô. Trata-se na verdade, de categorias abrangentes às
quais se reduziriam as múltiplas etinias que o tráfico negreiro fez representadas no país. O termo
tem servido para circunscrever os traços diacríticos através dos quais se revela um mundo
caracterizado por um notável conjunto de elementos comuns. Tem servido, além disso, para
hierarquizar esse universo em termos de maior ou menor “pureza” atribuída a cada “nação” em
virtude de uma suposta fidelidade e autenticidade litúrgicas.” (V. M.B., 2005 : 198).
126
“As nações expressam as idéias que cada grupo tem sobre as origens africanas desta região.
Dependendo da nação,os rituais apresentam diferenças. São sete as nações do candomblé”queto,
angola, omolocó, jeje, nagô, cambinda e guiné.” (M., 2001: 149).
Nagô– vd. Nação.
O
Obá- “terceira mulher de Sòngò, oba é a deusa nigeriana do Rio do mesmo nome. Muitas vezes
confundida com iyánsan, pois, além de casada com Sòngò usa também espada de cobre. Na outra
mão leva, seja um escudo, seja um leque com o qual esconde uma de suas orelhas em lembrança
do episódio mítico que deu margem a sua rivalidade com Osún No Brasil é sincretizada com Santa
Catarina e Satna Joana d’Arc. Seu dia é quarta feira. Seus colares são de contas alternadamente
amarelas e vermelhas de tonalidade leitosa. É saudada com “ obachireê!” (VM.B., 2005:198-199).
Obrigação– (ebó)- “Termo que designa, genericamente, Oferendas e sacrifícios. Usa-se também
trabalho, despacho e, às vezes, feitiço. ”(V.M.B, 2005 : 194)
Odus- (odu)- “Pronunciamento oracular resultante da prática advinhatória com o òpelé (vd)
Oiá- vd. Iyansán
Olorum- “Divindade suprema yorùbá, criador do céu e da terra. Deus do firmamento. É o Eléeda,
“senhor-das-criaturas-vivas”; o eléèémí “dono da vida” que criou o homem e a mulher a partir do
barro encarregando seu filho Obàtálá, de moldá-los e animá-los com o sopro vivificante. De
caráter inamomível, é numinoso, que permanece fora do alcance dos homens que não lhe podem
render culto. Nào tem insígnias. Sua cor é branco absoluto. É também chamado de Olódumaré.”
(V.M.B., 2005 : 199).
Ogum-(ògún) “Divindade da forja e dos usuários de ferro; por extensão da guerra e da agricultura
e, também, da caça ou de todas as demais atividades que envolvem a manipulação de instrumentos
de ferro. É rei de ire, por isso chamado no Brasil de Oniré. Costuma a ser representado por um
semi-círculo soldado à base por uma haste, no qual se encontram, pendurados no arco do semicírculo,
todo o tipo de instrumentos que como um conjunto todo , são de ferro. É filho de Yemoja e
irmão de Èsú e Osòósi. Por isso, tem a ver com os caminhos, a caça e a pesca. Pertence-lhe a faca
sacrificial – o obé (vd). Os colares são de contas verdes ou azul-(escuro) (em angola). Seu dia é
terça feira. Saudação- “Ògún yé!””. (V., M., B, 2005 p.199-200).
Oluô– (Bàbàlàwo) “Sacerdote encarregado dos procedimentos divinatórios mediante o òpelé de
ifá, ou rosário-de-ifá.” (V., M., B., 2005 p.193)
127
Òpelé– “Colar aberto no qual se encadeiam oito metades de coquinhos de dendê, mediante um fio
traçado de palha-da-costa. É o instrumento divinatório privativo dos aut6enticos sacerdotes de
ifá” (V. M.B., 2005 : 200) vd. Babalaô ou Oluô.
Orixá – (òrisá) – “Qualquer divindade yorùbá com exceção de olóòrum (vd). Seus equivalentes
fón (vd) são vuduns. A designação do culto angola-congo que lhes correspondem é inkice. Essas
equivalências são imperfeitas pois ao passo que uns são forças da natureza, os outros são espíritos
que retornam sob a representação de animais, enquanto que outros ainda são espíritos ancestrais.”
(VM.B, 2005 : 200-201). “ Orixás- Divindades iorubá cultuadas nos candomblés, Xangôs,
Batuques e umbandas (…) São antigos reis ou heríos divinizados e considerados como
representações das forças da natureza. São também chamados de “santos”.” (BARROS,1999 :239)
Otá – vd. Pegí
Oxum– (òsún) – “Divindade das águas em particular Rio Òsún na Nigéria. É a segunda esposa de
Sòngó, mas foi casada também com Ogum e Osóòssi. Deste último casamento nasceeu Lògúmede
vd. Seus símbolos são o leque dourado e a espada. É pois ima iabá que se caracteriza pela
coqueteria, gostando de enfeites e jóias de ouro (ou cobre amarelo). Tem título de Ialodê chefe
das mulheres do mercado, sendo sincretizada no Brasil com diversas Nossas Senhoras( da Glória,
da Conceição, do Carmo, das Candeias, da Candelária) e com Santa Luzia. Além disso é a rainha
de Òsogbo e Òió. Seus colares usam contas amarelas-douradas-translúcidas. Saudação – “Rora
yèyé o!” Seu dia é o sábado. ”( V. M.B, 2005 : 201).
P
Padrinho- vd Babalorixá, Pai de Santo.
Pegi- “Espécie de altar onde se encontram dispostos os diversos tipos de insígnias da divindade ,
com as pedras votivas (otá), armas e demais objetos simbólicos, e onde estão dispostos recipientes
contendo as comidas ofertadas aos oràsá.” ( V. M.B., 2005 : 202).
Pai-de-santo– vd. Babalorixá.
Pomba-gira– vd. Exú
Preto velho– “ Entidade que representa velhos e velhas pretas. São velhos ex-escravos vovô e vovó
ou tios e tias) que andam curvados, algumas vezes apoiados em bengalas,(…) sempre fumando um
cachimbo.”. (MAGGIE, 2001: 151) “Termo que designa um tipo de entidade característica dos
cultos de umbanda. Representam os espíritos dos mortos que se notabilizaram por sua humildade
sabedoria e magia. São conhecidos como vovô-vovó, tio-tia, e pai e mãe.” (V.M.B.,2005: 202)
128
Preta veia– vd Preto velho.
Povo-de-santo- “Design ação coletiva que abrange o conjunto dos filhos de santo de todos os
candomblés.” (V.M.B.,2005 :202)
R
Rainha- Personagem de grande destaque nas cortes de maracatus. Muitas vezes assumido por
respeitadas yalorixás que fundamentaram o “vinculo religioso” entre os maracatus e os Xangôs em
Recife.
Recolhimento– vd Luto.
S
Saída– Desfiles nas ruas da cidade. Segundo Dona Elda, yalorixá e Rainha do Porto Rico do
Oriente, existem dois tipos de saídas: as “oficiais” do carnaval, como o desfile na Dantas Barreto
(domingo de Carnaval), a Noite dos Tambores Silenciosos (Segunda de Carnaval no pátio do terço
bairro de são José) e para os primeiros lugares o desfile das campeãs que ocorre, no dia 12 de
março, durante a cerimônia de aniversário da cidade do Recife, na torre Malakoff no Marco Zero
do Recife Antigo; e, as saídas de “folclore”, desfiles contratados mediante ao pagamento de
cacheês, que ocorrem durante todo o ano.
Sede– Local onde se realizam as reuniões e ensaios e onde ficam guardados os adereços,
instrumentos e vestimentas do maracatu de baque virado. Em muitos casos a sede se sobrepõe à
casa dos dirigentes da nação.
T
Terreiro – vd. Candomblé. “Casa de Culto, onde se realizam a maior parte dos rituais. Grupo sob
a chefia de um pai de santo.” (M., 2001 : p.153). “Pode chamar-se também ilê, Casa de Santo,
Roça e Abacá. ( BARROS, 1999: 240).
Toque– Diz- se para ensaios da orquestra de bombos do maracatu e também para dia de culto
litúrgico nos terreiros.
V
Vudum– vd. Orixá.
X
129
Xangô– “Orixá nacional ioruba. Deus do Raio e do trovão, filho de Oxalá e Oranian. Fundador
mítico da cidade de Oió. No Brasil é considerado como filho de Oxalá. Suas esposas míticas são
Oxum, Oba e Iansã./ Oiá. Seu dia consagrado é quarta feira é sua saudação é Caô–Cabieci!”
(BARROS, 1999 : 240).
Xangôs – vd. Candomblé
Y
Yalorixá – (Ialorixá) – vd Babalorixá.