Carta de Jaqueline Araújo – Carnaval 2013

Jaqueline Araujo
 

Boa tarde Prefeito

Gostaria que o Senhor olhasse pelas nações de maracatu que desfilam no concurso das agremiações do Recife.

Sei que o senhor tem propostas inovadoras para nossa cidade, então, venho fazer esse apelo, para que as nações de maracatu de PE possam ser mais bem acolhidas durante o período carnavalesco.

Acredito quando o senhor diz que em 2014 o carnaval do Recife terá a sua marca, sua cara, por isso, enquanto turismóloga, lhe peço com muito carinho e respeito que o senhor reveja o formato daquele desfile.

Dentre as nações de maracatu que existem em nosso estado, sem desmerecer nenhuma delas, porque para mim, enquanto pesquisadora, todas devem ser valorizadas e respeitadas, vou citar como exemplo de luta e preservação dessa manifestação, a Nação do Maracatu Porto Rico e a Nação do Maracatu Encanto do Pina, cuja os mestres Shacon Viana e Joana Cavalcante, trabalham anualmente dentro da Comunidade do Bode, no Pina, para que os seus (os nossos) maracatus desfilem dignamente durante o carnaval.

O senhor pode conferir relatos de pessoas que expressam sua indignação ao tratamento dado as nações durante os desfiles, não vou aqui relatá-los por que eles já estão expostos muito claramente nas fan pages dos maracatus e dos seus integrantes. Meu objetivo, Sr Prefeito, é expressar, que assim como o frevo, as nações de maracatu são patrimônio do nosso estado, elas podem até não ter sido reconhecida pelos órgãos competentes ainda, mas a história delas desde o XVIII em Recife já lhes confere esse título, portanto, elas merecem respeito.

O desfile das nações deveria ser em um local de grande visibilidade para que os visitantes que buscam conhecê-las pudessem ter acesso ao dia mais importante na vida de todos os componentes dos maracatus, que passam o ano inteiro se preparando para o dia do desfile “oficial” da nação.

Para muitas nações, o dia do desfile oficial é mais importante do que fazer a abertura do carnaval no marco Zero. Desfilar na passarela para muitos maracatus significa colocar o coração deles na avenida, é um momento mágico, que eu um dia espero poder vê-lo juntamente com sua família prestigiando esse momento.

Mas como podem as nações desfilar e mostrar sua beleza para seus visitantes, às 02hs da manhã? Será mesmo que todos os visitantes que vem em busca de conhecer essa manifestação tem acesso àquele local? Nesse horário? É realmente justo o maracatu Elefante de Dona Santa não desfilar no grupo especial? O que faz pensar que as nações devem desfilar competindo por um título que nem visibilidade tem?

Jaque 3Faço das palavras de Katarina Real as minhas quando ela um dia escreveu sobre a comissão julgadora do desfile das agremiações em seu livro Eudes O Rei do Maracatu: Eu sempre havia me recusado a servir nas comissões julgadoras, alegando a justificativa habitual: “pois eu acho que todos devem ganhar!”.

O meu apelo ao senhor, diz respeito a luta de muitas pessoas que querem que as nossas nações sejam preservadas, muitas delas já lutam há tempos por isso, outras fazem parte de segmentos culturais, como Edilton Euclides Energia, produtor cultural que desde a década de 90 se preocupa com a situação das nações nesse concurso.
Eu poderia citar aqui Sr Prefeito, uma gama de pessoas que se compadecem com a problemática dos maracatus no período carnavalesco, mas vou ficando por aqui com a certeza de que o senhor irá olhar com carinho para as nações, não só durante o período carnavalesco, mas sim o ano todo.

Espero que em 2014 o carnaval das nações de maracatu de Pernambuco também possa estar de cara nova.

Obrigada,

Jaqueline Araújo

OBS: Essa mensagem Jaqueline Araújo  na fan page do FACE do Prefeito do Recife, conforme a autora,  lá é um bom lugar para expressarmos nossa indignação ao tratamento dado as nações durante o carnaval.

Sobre gloria

Desde 2007 me descobri batuqueira; comecei a aprender maracatu no Ilus de Assuada, um dos filhotes da Casa de Cultura Tainã e grupo Urucungus. Em 2008 fui uma das fundadoras do Maracatuca. Minha formação musical veio da Fundação das Artes e depois me especializei em percussão de orquestra, erudita e trabalhei mais de duas décadas na Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas. Sempre dei aula, gosto de ser professora. Fiz mestrado na Unicamp, dentro do Grupo de Educação e Pesquisa em Educação Continuada - GEPEC - na Faculdade de Educação com a Corinta M. G. Geraldi como orientadora nessa caminhada. Agora estudo na Nação do Maracatu Porto Rico com mestre Shacon e vários batuqueiros e a Nação do Encanto do Pinta com vários batuqueiros, mas principalmente caixa com Mariana Bianchi.
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